quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Grécia no fim do jogo

Muito bom esse arquivo do Paul Krugman que fala sobre a crise na Grécia.

A Grécia no fim do jogo

Muitos comentaristas acreditam agora que a Grécia acabará reestruturando sua dívida – um eufemismo para a recusa parcial em pagá-la. Mas o raciocínio parece se interromper nesse ponto, o que é errado. Na verdade, o consenso segundo o qual a Grécia deve acabar na inadimplência é provavelmente otimista demais. Estou cada vez mais convencido de que o país será também obrigado a abandonar o euro.

Já expliquei o funcionamento básico do problema: mesmo com uma reestruturação de sua dívida, a Grécia estará em grandes apuros e será obrigada a promover medidas de severa austeridade – provocando um acentuado declínio econômico – apenas para conseguir se livrar do déficit primário, que exclui os juros.

A única coisa capaz de reduzir a necessidade de tamanha austeridade seria algo que ajudasse a economia a se expandir, ou que ao menos impedisse uma contração de tais proporções. Isso amenizaria a dor econômica; também aumentaria a renda, diminuindo assim a rigidez relativa da austeridade fiscal necessária.

Mas o único caminho para a expansão econômica é o aumento das exportações – que só pode ser obtido se os custos e preços gregos sofrerem uma forte redução em relação ao restante da Europa.

Se a Grécia fosse uma sociedade extremamente coesa na qual os salários fossem coletivamente determinados, uma espécie de Áustria do Mar Egeu, talvez fosse possível resolver o problema por meio de uma redução consensual nos salários como um todo – uma “desvalorização interna”. Mas, como demonstram os sombrios acontecimentos de ontem, isso é impossível.

A alternativa é a desvalorização – o que significa abandonar o euro.

Como destaca Eichengreen, o anúncio de qualquer plano para deixar o euro provocaria desastrosas corridas aos bancos gregos. Igualmente, qualquer sugestão da existência dessa possibilidade feita por outros participantes, como o Banco Central Europeu, seria equivalente a invocar um ataque especulativo contra os bancos gregos e, portanto, não pode ser feita. Na prática, a questão toda é impossível de ser debatida.

Mas nada disso significa que o euro não pode ser abandonado. A Grécia já começa a parecer com a Argentina de 2001.

Repito que não se trata de uma alternativa para a reestruturação da dívida; isso é o que pode ser necessário além da reestruturação da dívida para tornar possível o ajuste fiscal.

Espero que em algum lugar, nas entranhas do BCE e do ministério grego das Finanças, as pessoas estejam pensando no impensável. Porque esse resultado desastroso começa a parecer melhor do que suas alternativas.

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