domingo, 20 de fevereiro de 2011

Vivendo sem uma política fiscal discricionária

Bom texto do Krugman sobre a nova política fiscal dos EUA. O que vem acontecendo a tempos no Brasil e sempre foi criticado pelo mundo agora é defendido pela nata dos economistas. Vai saber.....

Alex Tabarrok nos oferece um argumento interessante: experiência recente parece indicar que as políticas keynesianas, mesmo que adequadas, acabam não sendo politicamente viáveis quando você necessita delas. Não acho que devemos assumir isso como um fato imutável; mas então, quais são as alternativas?

Salários maiores e flexibilidade dos preços NÃO são a resposta; quando você está preso a uma armadilha de liquidez é necessária uma política fiscal e alguns de nós tentaram explicar muitas vezes – aparentemente sem sucesso – que essas são condições com base nas quais salários e preços em queda só podem piorar as coisas, não melhorar.

Uma melhor regulamentação, para que crises não ocorram com frequência, seria bom. Como também estabilizadores automáticos mais vigorosos.

Mas o que realmente fica claro, se você admitir que a política fiscal discricionária não está presente quando se necessita dela, é que ela pode justificar uma meta de inflação mais alta. Olivier Blanchard, do FMI, defendeu essa ideia um ano atrás. Se tivéssemos entrado nesta crise com uma inflação de 4% ou 5%, e não 2%, haveria mais espaço para uma política monetária convencional agir antes de chegarmos a uma taxa de juro próxima de zero.

Mas as mesmas pessoas que denunciam o keynesianismo também fazem um grande alarido no caso da inflação e nunca aceitariam uma meta de inflação mais alta. Então, o que podemos fazer se isso, também, for rechaçado?

Não muito. Se a política descarta todas as respostas eficazes, não haverá nenhuma resposta eficaz.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Aumento dos preços dos alimento

Pra mim essa alta geral nos preços dos alimentos tinha uma razão meio que obvia. A população crescendo e o noticiário sempre retratando a fúria do meio ambiente em todos os lugares do mundo. Esse texto do Paul Krugman explica bem o que está acontecendo.

Aumento dos preços dos alimento


O que está por trás do aumento dos preços dos alimentos? Os suspeitos habituais fizeram as alegações de costume – a culpa é do Fed ou dos especuladores. Mas eu andei olhando as estimativas mundiais de oferta e procura do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e o que emerge dos dados é sobretudo que tivemos uma enorme quebra de safra global.

Eis algumas mudanças porcentuais na produção mundial de grãos entre 2008/2009 e 2010/2011, segundo as estimativas desse departamento:


A produção total de grãos caiu – e caiu muito mais quando se leva em conta o crescimento da população mundial. A produção de trigo (desta vez não per capita) está caindo.

O leitor poderia perguntar por que uma queda de 5% na produção provoca uma duplicação do preço. Parte da resposta é que alguns tipos de demandas estão crescendo mais rápido que a população – em particular, a China está se tornando um crescente importador de ração para atender à demanda de carne. Mas o ponto principal é que a demanda de grãos é altamente inelástica em relação ao preço: é preciso um grande aumento nos preços para induzir as pessoas a consumirem menos, ainda que coletivamente é o que elas tenham de fazer dada a escassez na produção.

Por que a produção está caindo? A maior parte do declínio da produção mundial de trigo e cerca da metade do declínio total da produção de grãos ocorreram na antiga União Soviética – principalmente na Rússia, Ucrânia eCasaquistão. E nós sabemos do que se trata: uma onda de calor incrível, sem precedente.

Ressalva obrigatória: nenhum evento isolado pode ser definitivamente atribuído à mudança climática, assim como não se pode necessariamente alegar que alguma batidinha de carro que esteja ocorrendo agora no centro de New Jersey tenha sido causada pelo lençol de gelo negro que atualmente cobre nossas estradas. Mas seguramente tudo indica que a mudança climática é uma grande culpada. E não é apenas nos Estados pós-soviéticos: condições extremas do tempo em outros lugares que, de novo, são o tipo de coisa que se deveria esperar de mudanças climáticas, tiveram um papel na safra ruim mundo afora.

Voltando à economia: se querem saber por que estamos tendo uma alta nos preços dos alimentos, os dados sugerem que a causa principal são as condições climáticas terríveis que conduzem a safras ruins, especialmente na antiga União Soviética.

Atualização: O USDA tem estimativas de elasticidades de preço. Para os Estados Unidos, eles situam a elasticidade de preço da demanda por pães e cereais em 0,04 – isto é, seria preciso um aumento de 25% no preço para induzir uma queda de 1% no consumo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O goleiro Bruno não tinha poupança

Olha isso. Tô gostando cada vez mais. Do blog Seu bolso

Ouvi hoje pela manhã o advogado do goleiro Bruno, Ercio Quaresma, dizer que os amigos do goleiro estão fazendo uma vaquinha porque ele está sem dinheiro. Achei estranho. Mas o advogado continuou: Bruno comprou carros em várias prestações, gastava todo o dinheiro que recebia no mês, a casa em que ele mora no Rio de Janeiro é alugada e apenas o sítio em Esmeraldas seria dele. Sem juizo de valor, Bruno não poupou e agora está sem dinheiro para uma emergência. Fica a lição.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Economia do Brasil deve passar a do Reino Unido, diz BBC

Fonte: Estadão

Otimismo é pouco pra galera da BBC. Os caras estão colocando o gás pra cima do Brasil mesmo. Maior do que França e Reino Unido na próxima década. Não saio daqui mesmo.

Economia do Brasil deve passar a do Reino Unido, diz BBC


A rede de televisão britânica BBC fez uma série especial sobre o Brasil na qual afirma que a economia do País vai desbancar a do Reino Unido.

“O Brasil está se tornando uma fonte de influência econômica”, afirma o jornalista Matt Frei em uma das reportagens, antes de jogar alguns dados: “Crescimento de 5% ao ano, terceira maior indústria de aviões do mundo [a Embraer], maior exportador de carne e uma economia que deve superar a britânica na próxima década, além da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos por vir”.

Em outra reportagem, de áudio, o jornalista diz que “em algum momento do futuro, este lugar vai desbancar o Reino Unido e a França como a quinta maior economia do mundo”.

Frei afirma que, “olhando para as favelas, o quadro se torna mais desafiador”. Para ele, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é também um “Programa de Pacificação das Favelas”. Como exemplo, ele dá voz a um líder comunitário da Rocinha, no Rio de Janeiro, que opina: “O PAC significa que agora as pessoas têm emprego [...] O governo está gastando muito dinheiro com a gente. Nós precisamos e merecemos”.

A reportagem também traz a avaliação do economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas: “A má notícia é que o Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo. Mas a desigualdade está diminuindo, mas a desigualdade tem caído – não muito, mas uma pequena queda pode gerar uma grande transformação”.

Em contrapartida ao tom predominantemente otimista da reportagem, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga diz à BBC que “é uma coisa boa ver a auto-estima [dos brasileiros] melhorando, mas não podemos exagerar”.

Paralelamente às reportagens de áudio e vídeo, o site da BBC traz mapas sobre a distribuição da renda, da população e do Bolsa Família por Estado.

terça-feira, 18 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Os Estados Unidos serão a Grécia?

Excelente artigo do Blog do Krugman

Os Estados Unidos serão a Grécia?

12 de maio de 2010 | 16h51

Paul Krugman

David Leonhardt tenta traçar paralelos. Mas qual é a força do paralelo de fato? Eu realmente questionaria esta comparação:

Os números de nossa dívida federal estão ficando assustadoramente familiares. A dívida está projetada para alcançar 140% do Produto Interno Bruto dentro de duas décadas. Acrescentem-se os problemas orçamentários de governos estaduais, e o buraco real cresce ainda mais. A dívida da Grécia, em comparação, é de cerca de 115% de seu PIB.

Bem, isso é comparar uma projeção (altamente incerta) de dívida daqui a 20 anos - que se baseia na suposição de uma política inalterada – com uma dívida real agora. E vale assinalar que a dívida grega está projetada para alcançar 149% do PIB nos próximos anos – e isso com as medidas de austeridade acertadas com o FMI.

Eis uma comparação mais ou menos possível do panorama no médio prazo. Tomei as projeções de Auerbach-Gale para o panorama do déficit orçamentário americano como porcentagem do PIB com as políticas de Obama e as comparei com as projeções do FMI para a Grécia, subtraindo as “medidas” – isto é, as medidas de austeridade acertadas em troca de empréstimos oficiais. Eis como parece:


Basicamente, os Estados Unidos podem esperar uma recuperação econômica para reduzir substancialmente o déficit; a Grécia, que tem um déficit estrutural maior e também enfrenta um ajuste desgastante de sobrevalorização com a zona do euro, não.

Sim, os Estados Unidos precisam de um ajuste fiscal – Auerbach e Gale dizem que temos um desequilíbrio fiscal de longo prazo de 6% do PIB, embora boa parte dele possa ser tapada reduzindo os custos da saúde. Mas nós realmente não somos muito parecidos com a Grécia.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Grécia no fim do jogo

Muito bom esse arquivo do Paul Krugman que fala sobre a crise na Grécia.

A Grécia no fim do jogo

Muitos comentaristas acreditam agora que a Grécia acabará reestruturando sua dívida – um eufemismo para a recusa parcial em pagá-la. Mas o raciocínio parece se interromper nesse ponto, o que é errado. Na verdade, o consenso segundo o qual a Grécia deve acabar na inadimplência é provavelmente otimista demais. Estou cada vez mais convencido de que o país será também obrigado a abandonar o euro.

Já expliquei o funcionamento básico do problema: mesmo com uma reestruturação de sua dívida, a Grécia estará em grandes apuros e será obrigada a promover medidas de severa austeridade – provocando um acentuado declínio econômico – apenas para conseguir se livrar do déficit primário, que exclui os juros.

A única coisa capaz de reduzir a necessidade de tamanha austeridade seria algo que ajudasse a economia a se expandir, ou que ao menos impedisse uma contração de tais proporções. Isso amenizaria a dor econômica; também aumentaria a renda, diminuindo assim a rigidez relativa da austeridade fiscal necessária.

Mas o único caminho para a expansão econômica é o aumento das exportações – que só pode ser obtido se os custos e preços gregos sofrerem uma forte redução em relação ao restante da Europa.

Se a Grécia fosse uma sociedade extremamente coesa na qual os salários fossem coletivamente determinados, uma espécie de Áustria do Mar Egeu, talvez fosse possível resolver o problema por meio de uma redução consensual nos salários como um todo – uma “desvalorização interna”. Mas, como demonstram os sombrios acontecimentos de ontem, isso é impossível.

A alternativa é a desvalorização – o que significa abandonar o euro.

Como destaca Eichengreen, o anúncio de qualquer plano para deixar o euro provocaria desastrosas corridas aos bancos gregos. Igualmente, qualquer sugestão da existência dessa possibilidade feita por outros participantes, como o Banco Central Europeu, seria equivalente a invocar um ataque especulativo contra os bancos gregos e, portanto, não pode ser feita. Na prática, a questão toda é impossível de ser debatida.

Mas nada disso significa que o euro não pode ser abandonado. A Grécia já começa a parecer com a Argentina de 2001.

Repito que não se trata de uma alternativa para a reestruturação da dívida; isso é o que pode ser necessário além da reestruturação da dívida para tornar possível o ajuste fiscal.

Espero que em algum lugar, nas entranhas do BCE e do ministério grego das Finanças, as pessoas estejam pensando no impensável. Porque esse resultado desastroso começa a parecer melhor do que suas alternativas.